Perversões

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Esplanadas

Bebia uma caneca loira e reparei na mesa de madeira da esplanada. A cadeira assemelhava-se a um instrumento de tortura de um consultório médico antigo e era ocupada por uma miúda ruiva,

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Eu sei o que tenho em Évora

Eu sei o que tenho em Évora.

Tenho a mármore branca da da fonte que me recorda a pele suave dos amores de adolescência. As paixões platónicas em cada arcada.

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António, O Lobo
Podcast

No passado domingo, na Casa do Alentejo, o baile não era temático mas, por falta de motivo melhor, as velhotas embonecaram-se e algumas levaram as netinhas como companhia. Cidália era uma conhecida de António, e a neta, uma boneca de 27 anos acompanhou-a. Quando entrou no salão de baile com a avó, já António bebericava um tinto e quase se engasgou. Aquele golo de vinho não foi de beber, foi de comer, como se algo lhe entrasse pela guela sem ter sido mastigado.

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Mudo

Foi semelhante à primeira vez que assisti ao nascer do dia. Na inocência de quem pouco viveu, tudo parece bastante brilhante, e os sons são tão nítidos e puros que quase que podemos jurar que o Paraíso é isto. Recordo-me perfeitamente.

Primeiro um ombro, uma alça que cai e o seio desnudo exibe-se. Muito tímido, mas seguro da sua beleza. Os meus olhos apenas brilhavam esperançosos. Aquela esperança que as crianças cultivam até que a vida lhe dá um pontapé bem assente na Alma ou na Honra.

Recordo-me perfeitamente.

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A última última vez
Podcast

Havia um aguaceiro no seu olhar e um sabor acre nos lábios, como se tivesse feito uma direta e o fígado gritasse por auxílio; as despedidas costumam ter este tipo de efeitos secundários. Nunca havíamos dado as mãos, mas naquela tarde, soubemos que seria o primeiro entrelaçar de dedos. A sombra das nuvens invadia a cidade como uma aguarela e havia o som de folhas de árvores no vento.

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Inês

Faz bastante tempo que não preencho o branco das folhas. Histórias que, por malícia ou malandragem, afirmo serem fantasia e, num sorriso mais amarelo, lá me descaiu e o mundo percebe que o rei vai nú.

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Alexandre (O grande)

Pedi-lhe para contar a melhor história que tivesse vivido, Alexandre sorriu e sentou-se à minha frente.

- Quero que me contes todos os detalhes, quero escrever essa história.

- Oh filho, tenho tantas, não terás cabeça para as decorar, nem dedos para as escrever - disse-me, troçando da minha curiosidade.

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Funerária

A vida vai passando a cada final de semana na rua de Sant’ana; perto da Ginjinha, há quem venda feijões, sapatos em segunda mão (segundo pé), lâminas de barbear e outros bens que tais.

Num restaurante tradicional sentei-me, pedi um bitoque com ovo estrelado. Ainda sentia a ressaca da noite anterior. Havia estado com Ela na Mouraria até perto das 4 da manhã. Bebemos cerveja, vinho e o resto nem me lembro. Havia um daqueles artistas que tocam teclado, cantam e fazem o pino. As vidas manifestavam-se. As pessoas sorriam, abraçavam-se e dançavam. Também nós o fizemos. A ultima imperial nem a pagámos. Já se queimavam os últimos cartuchos e a banca das jolas já se preparava para fechar.

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No elevador

Há mulheres que nos fazem sentir fracos. Vidro frágil que ao olhar mais penetrante estala. Essas são as minhas preferidas. Não há nada como sentir-me pequeno e fraco, rodeado por rochedos confiantes de beleza inigualável.

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A tusa

Resolvi ir até à praia. É bom viver num país perto do Oceano. Imagino toda aquela malta que, por infelicidade geográfica - e genética - resolveu nascer naqueles num daqueles países emboscados por nações vizinhas -, pedaços de terra rodeados de terra por todos os lados - e demoram dias de viagem até poderem vislumbrar o Mar. Na praia onde estendi a toalha um grupo de cachopos brincava. Deviam ter entre os 5 e os 7 anos no máximo. Deliravam com a areia.

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