Outono

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Quando o avião partiu, todos os que observávamos a lenta marcha dos nossos amores, até à ave de metal, voltámos costas com um sentimento de desolação. Inevitavelmente assim aconteceu. Mesmo antes de ela partir já os pássaros nómadas haviam abandonado os ninhos; as árvores despiram-se das velhas folhas castanhas e o rio secou. As águias, haviam arrancado o bico e as unhas e aguardavam, em sofrimento, o rejuvenescimento.

No quarto, o cheiro a sexo fazia-se sentir, sendo agora uma tortura olfactiva da qual não conseguia fugir. Olhei o canto da casa de banho e ali estavam, umas cuecas, pretas e finas com o cheiro dela. Na sala, um elástico para o cabelo. Na cozinha, uma pequena côdea de uma torrada, que ela havia mordiscado, momentos antes de partirmos para o aeroporto. A marca dos dentes era bastante óbvia e recordei o seu sorriso. Pequenas relíquias que, acidentalmente, foram ficando germinadas pela casa, no entanto, as flores agora não crescem. O Outono tem esta particularidade, é uma estação de morte e latência, embora saibamos que é gordo e cheio de esperança. As vidas estão ali, prontas a rebentar sob a forma de botões de rosa. Ramos que timidamente surgem nas árvores.


“O esperma foi calorosamente recebido pelo óvulo - e ela gemeu”, li nas páginas de um qualquer livro que por ali teimava em manter-se aberto.


Dou por mim a pensar em todas as pequeninas histórias que vivemos juntos. Ela a quilómetros de altura rumo ao novo mundo, eu aqui, no Outono. Simultaneamente as castanhas assadas estalam e o aroma é reconfortante; recordei os abraços por baixo das mantas e o seu sabor de mulher. As unhas quando deslizam sob uma pele arrepiada fazem cócegas. Ela ria. Conversávamos sobre quedas, quecas e nascimentos. Podíamos até discutir os malefícios do fumo, da carne, do álcool, o sedentarismo e a falta de humor. Perto de uma lareira ardente, nas noites de chuva, liamos poemas em voz alta, como se os declamássemos para uma plateia de intelectualoides sabedores da semântica.


No fim de cada noite ali estava ela, pernas abertas como as portas do Paraíso. Os pelos e os lábios carnudos, brilhantes, húmidos de excitação, convidavam à penetração. Uma mulher que desta forma se entrega a um homem, só pode deseja-lo imensamente. Um desejo de fêmea, sem preconceito religioso ou castração social. A pureza é assim. Explicita e sem segundos sentidos. A pele das coxas arrepia e as virilhas, esses pequenos vales de conforto, são suaves e sedosos. Como eu gosto de a beijar ao longo das curvas do seu corpo, até que, delicadamente, sinto os seus pintelhos nos lábios. Gosto dela assim. Pura e natural. Cada noite que passava, mais a conhecia e mais ela me desejava. Por vezes quero convencer-me de que não sou um egocêntrico Narcisico. Oh, mas ela sabe! Sente perfeitamente como eu desejo que ela me deseje, e que nela deixe-me brotar, forte e seguro de mim, tal como os rebentos da nespereira. O Fruto das nossas fodas, espalhado pelos lençóis, pelas toalhas de banho, pelos lábios ou pelos seus seios, eram a prova física do nosso êxtase.


Este ano será diferente. Algures, a sua flor desabrochará sem que eu possa colher o precioso nectar de Mulher. Outro homem, quem sabe, será afortunado de a conquistar - difícil tarefa, disso tenho a certeza! Estas palavras não são uma história, muito menos uma carta ou um desabafo, são apenas um suspiro. Uma brisa de desejo, uma folha que cai durante o Outono deixando livre o berço para um novo Orgasmo.


Lisboa, 01 de fevereiro 2018
um Velho Pervertido