Final Feliz

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É necessário garganta e estômago para engolir os efeitos colaterais de viver. Felizmente utilizamos medidas que definem e justificam a nossa existência, tornando-a mais suportável. É expectável que os dias tenham vinte e quatro horas, que as semanas sejam conjuntos de dias, e assim progressivamente, até termos uma Vida – uns conjuntos de anos.

Mas não apenas de tempo é formada esta existência. Há outras coisas que são igualmente importantes. Por exemplo, a qualidade do tempo passado na Vida. O Saber reunido dentro de nós, o Amor que cultivámos, o Sexo que nos alegra o corpo e a mente.

Na noite passada, conduzia Avenida da Liberdade acima e por destino do acaso todos os semáforos estavam verdes. Foi a primeira vez que a livre passagem pela Avenida me foi permitida. Não houve automóvel que me parasse. Já na rotunda, tendo o Marquês à minha esquerda, o vermelho trava-me. A espera não é longa, mas poucos metros depois, outra paragem. Tal como indecisões e dúvidas sobre o fode ou não fode, o trânsito deixa-me ansioso, irritado. Estes tempos de espera são autênticos desperdícios de vida. Foi exatamente o que lhe disse quando, num momento de fraqueza, Eva deu um passo atrás:

– Não consigo fazer isto. Tenho o meu marido em casa. Teria de lhe contar…

– E agora é que te apercebes disso? – respondi já desagradado com a situação.

Eva é bonita e tem umas pernas espetaculares. Um rabo irrepreensível e uns lindos lábios sumarentos. Fazia algum tempo que lhe havia comentado o desejo que por ela sentia. Percebi imediatamente que o seu ego inchou como um balão e o olhar ficou mais brilhante. As mulheres gostam destas coisas. Gostam de atenção e de serem apreciadas. Por vezes, o falso moralismo lusitano vem ao de cima. Isso é uma chatice. É uma merda que seca e começa a ferir sem nunca deixar de cheirar mal.

– Acabamos este vinho e vou embora. Não devia ter vindo. – diz já nervosa e tremelicando com remorsos da traição que não cometeu.

Deixei-a num táxi. Beijo nos lábios secos e um adeus até um dia. Felizmente que as tecnologias foram evoluindo e hoje em dia estamos em contacto com o mundo, principalmente com as almas solitárias que procuram companhia nas noites em que a cama está deserta.

– Olá B. – atendi, já era tarde – Estou a ir para casa. Queres ir lá ter? – propus-lhe sem indagar os motivos pelos quais me havia telefonado.

Meia hora depois B. entrou no meu apartamento. Sensual como sempre mas com um olhar cansado.

– Trabalhei muito hoje. Preciso de relaxar.

Tomámos duche e metemo-nos na cama. Nus e carentes de sexo. Ela ficou bastante húmida quando nos beijámos. Cuspiu na mão e bateu-me uma até ficar bem duro. Eventuais chupadelas, acidentais lambidelas. Quando a penetrei ambos gememos ligeiramente. Fodemos com vontade e com a intensidade de quem passou fome. Não esfomeado, mas sim a fome de quem saltou uma refeição e agora, no final da noite, cada penetração fazia-nos salivar e saciava o apetite.

Eva, por seu lado, em casa com o marido, masturbava-se pensando no que podia ter sido a sua noite comigo.

Lisboa, 12 de dezembro 2016
um Velho Pervertido