Ferrugem e cerveja

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– Ontem levei aquela miúda para casa, nem sabes o que aconteceu!- diz J. P. quanto dá um trago rápido e desastrado na média. A cerveja escorre pelo queixo e ao tentar limpar-se com a palma da mão, a mesa treme e a carica cai no chão.

– A gaja era boa, eu não tive sorte com a outra chavala… – responde Vítor enquanto enrola um cigarro. Segura um pequeno papel sedoso, mantém um filtro no canto da boca e meticulosamente envolve o tabaco no exíguo lençol.

– Que aconteceu, não a comeste?

J. P. e Vítor eram amigos desde que tinham memória. Não eram parentes, as suas famílias não eram velhas amigas, eles não sabiam como tudo tinha começado. Esta sensação de ausência de início e visão nublada do fim, era uma constante nas suas vidas. J. P. acabou de fazer trinta e cinco anos e Vítor é dois anos mais novo. Solteiros, chegaram a partilhar casa, mas decidiram arranjar cada um o seu apartamento. São vizinhos, moram na Graça. J.P. tem um emprego porreiro, ganha bastante bem e é um putanheiro de primeira. Conhece todos os antros, todos os locais, dos mais chiques aos mais degradantes, de Lisboa ao Porto. Uma vez, foi passar férias a Portimão e numa noite de copos acordou em Faro numa pensão com duas putas, uma loira, que de acordo com o que conta, era de um país do leste da Europa, e uma japonesa pequenita, que guinchava muito sempre que fodiam rápido. Não se lembra como foi lá ter nem muito menos de onde as putas apareceram. O gajo enfrasca-se de tal forma que, em Julho foi visitar uns familiares a Braga, acabaram por sair e beber uns copos valentes. Se não fosse o primo a dar-lhe um par de estalos, J. P. tinha ido para uma pensão com um travesti. Ele não conta esta história mas o primo disse-nos que J. P. apalpou os tomates e deu umas palmadas no rabo do travesti.

J. P. dá mais um trago na média e diz:

– É pá… Disse que lhe dava boleia; ela mora para ali na rua do Terreirinho, ao pé do Martim Moniz, sabes? Onde despachámos umas jolas na sexta, naquele bar… Anos 60.

– Sim, sim – responde Vítor enquanto acende o cigarro meio tosco.

– Entrámos no carro e dei à chave. Ao fazer marcha atrás dei apenas um solavanco e parei.

– Então?

– Eu queria levá-la para a minha casa e disse-lhe: ouve eu não consigo fazer este jogo, quero levar-te para minha casa e comer-te toda. Amanhã é tarde

Dasse... logo assim? Cara podre?

– …E fomos... Chegámos lá a casa, servi vinho… Estamos no sofá durante dois copos, altura em que já começo a sentir-me tocado até porque tínhamos bebidos uns Gins no Cais. Aproximei-me dela e comecei a beijar-lhe o pescoço, o normal já sabes.

– Normal…

– Levei-a para o quarto quando já estava muito doida, respirava rápido e dizia quase a gritar: quero que me fodas, fode-me, fode-me. Um teatro para os vizinhos…

Vítor solta uma gargalhada e engasga-se ligeiramente com o fumo de um segundo cigarro.

– Mas espera… ainda não cheguei à melhor parte. Quando chegamos ao quarto estávamos quase sem roupa… A gaja é mesmo boa… Mas continuando… Estávamos em grandes aventuras quando ela se levanta e puxa-me da cama. Ficamos ambos de pé, ajoelha-se e começa a chupar-me. Mas a chupar-me com fome!

– Tiveste mais sorte que eu… A outra chavala deu-me um beijito de compaixão na cara, apanhou um táxi e foi embora, deixou-me sozinho na Pink Street, mas conta lá o resto…

– Ela tinha um piercing nas mamas e uma tatuagem muito ridícula no ombro, em contrapartida, um rabinho impecável… Bem… está a chupar-me e quando me sente duro, diz que quer que eu a foda. Levantei-a do chão e atirei-a para a cama, já em cima dela lambi-lhe as mamas e fui descendo para lhe tirar as cuecas. Nem imaginas…

– Então? era um gajo! – e solta uma gargalhada.

– Não, caralho! Tinha pêlos, parecia que tinha a cabeça de um gato enfiado na crica… Pêlos grossos e pretos… Mas um gajo não dá parte fraca e, lá escarafunchei e encontrei-a, molhada e quente. Tu sabes que não gosto de pêlos…. A miúda é tão gira e tinha logo que ter pêlos.

– Não me digas que não a fodeste só porque era peluda!

– Vou para a lamber… mas começo só a mordiscar nas ancas e a aproximar devagar… assim que passo a língua a primeira vez, soube-me a algo estranho. Continuei a lambe-la até que parei e lhe perguntei: tens algum problema? A tua cona sabe a algo estranho, e tanto pêlo…

– Como assim? Algo estranho? – responde a miúda com uma voz ofegante e ausente. As silabas tinham diferentes volumes, fazendo lembrar uma viagem de montanha russa.

– Não sei… Sabe a ferrugem misturada com cerveja.

Vítor solta uma gargalhada novamente e já vai no terceiro cigarro.

– É pá…ela ficou um pouco aborrecida por eu estar a insinuar que a cona dela sabia ou cheirava mal.

– És muita parvo, aposto que não a fodeste depois disso.

– Não a lambi mais, isso é certo… e então fui-lhe ao cú.

Lisboa, 06 de dezembro 2016
um Velho Pervertido