Entre sonhos

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A roupa da cama desalinhada. Os livros abertos, com paginas dobradas, perdidos no sofá da sala. Jaime dorme; suave e confortável como claras de ovos em castelo. Nesse grande desfiladeiro da fantasia - o sonho - as estrelas parecem traços de luz que indicam o caminho, a velocidade é vertiginosa e o sentimento de queda é constante. Jaime move-se, troca de posição na cama procurando o conforto típico de quem aguarda nascer.


A queda transforma-se num deserto onde o ar é morno e os pés descalços enterram-se na areia quente. Sente-se minúsculo na vastidão. Não há vida à vista, nem um insecto ou um mero cacto. Pequenos trilhos na areia - seria uma serpente? - indicam um caminho que Jaime decide percorrer. A esperança de encontrar o que não procura é um poderoso afrodisíaco. Não sente sede, fome ou cansaço, existe apenas um tempo que não passa, uma perenidade sufocante. Um brilho de luz muito brilhante ofusca o seu olhar. Subitamente encontra-se num palácio, muito semelhante à casa do Alentejo ali perto das Portas de Santo Antão. A fonte da sala principal esguicha água e o som é reconfortante. Jaime volta-se mais uma vez na cama e instintivamente coça a cara.


No primeiro andar, seguindo o som de um piano lacrimoso harmoniosamente tocado, encontra uma Mulher. Observa-a antes de humedecer os lábios. Esta Mulher não tem cara. Um borrão num quadro a pastel. Como pequenas pétalas de cerejeira que vão nevando, as suas feições revelam Silvia. Está diferente. O cabelo longo e preto e um leve traço negro contornando os olhos. Um acorde pesado e grave quase o acorda. O som e a surpresa parecem querer puxa-lo para fora do Imaginário. Tal não acontece pois rapidamente Silvia segura a sua mão. Tem dedos lindos e longos. Jaime sorri e volta-se na cama. O Gato derruba uma garrafa que desafiava as leis da gravidade na mesa da sala. O som estridente apenas provocou alteração de cenário no sonho de Jaime, agora colado a Silvia numa tenda de campismo. É noite e ouvem-se mochos ou corujas, nenhum deles sabe discernir qual é qual. Beijavam-se intensamente no calor do ninho. Uma pequena lanterna cria sombras. Os seios de Silvia desenhados a negro na lona, perfeitamente delineados. Os mamilo sobressaiam e Jaime beija-os. Silvia respira fundo e entrega todo o seu peito a Jaime. A barba de alguns dias arranham ligeiramente mas ela gosta.


Fora do sonho, onde o seu corpo adormecido é envolvido pela realidade, uma erecção cresce e a fronteira que existe entre o sonhado e o vivido perde os contornos.


Estremecem quando ouvem passos sobre a folhagem seca da floresta, os corações até então sincopados, aceleram a ritmos diferentes. A sintonia perdida transporta Jaime para um cenário familiar. A sala, o sofá... Silvia deitada e apenas com umas cuecas róseas, joga as pernas por cima das dele num jogo de provocação e malícia apaixonada. Sobre ela Jaime beija-a com uma fome imensa.

Na cama, os lençóis enrolam-no tal como as ligaduras de uma múmia e a erecção está mais dura que nunca.

Silvia, húmida e arfante. É excitante sentir as cuecas de uma Mulher molhadas pelo Desejo . A vulva que se abre como uma ostra. Jaime lambe-a fervorosamente na busca infindável da preciosa pérola. Que imagem mais oceânica esta! Lambuzado pelo suco de Silvia, baba-se na cama, a almofada molhada não lhe é estranha neste contexto.

- Tão bom... - suspira ela.


Tão rápido e inesperado como qualquer sonho, Jaime encontra-se com uma mulher em cima de si, cavalgando e suando, como se horas tivessem passado e todos os sucos fossem sugados pela sua cona quente e molhada. No quarto níveo onde se encontram é impossível perceber onde termina o chão e se iniciam as paredes e o tecto. Um vácuo branco. Apenas uma cama redonda. Jaime penetra-a com uma vontade de conquista. Este desejo de carne é extremamente intenso e leva-o a pulsar o seu pénis erecto quando se mexe na cama do seu quarto. O gato lambe uma pata observando-o sentado na secretária.

Jaime agarra com mão cheia as ancas e o rabo da mulher, as penetrações são cada vez mais rápidas e profundas. Ela vem-se no seu caralho e a sua cara transfigura-se. É Silvia novamente. Geme e contorce-se procurando sentir cada pedaço de Jaime. A excitação leva-o a respirar profundamente e o gato volta a cabeça procurando sentido no ruído. O seu pénis latejante e o ruído dos carros lá fora acordam-no no preciso momento que estava prestes a vir-se. Durante uma pequena fracção de segundo, quando o seus espirito volta à realidade, sente-se perdido. Tempo e espaço alteram tão rapidamente que não consegue perceber o que acabou de acontecer. Olha para o lado da cama e percebe que está sozinho. Reconhece que o sonho terminou, apercebe-se que a realidade o puxou novamente para a inevitável certeza das regras do tempo e espaço. Ela já deve ter ido trabalhar, pensou para consigo.

Lisboa, 07 de abril 2018
um Velho Pervertido