No elevador

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Há mulheres que nos fazem sentir fracos. Vidro frágil que ao olhar mais penetrante estala. Essas são as minhas preferidas. Não há nada como sentir-me pequeno e fraco, rodeado por rochedos confiantes de beleza inigualável.


No final de tarde, presos no elevador, ela contou-me que durante a escola básica era a segunda menina mais bonita da classe. Sorri e acreditei que, esta mulher no apogeu dos seus vintes, havia sido a beleza da escola. Estava calor e o espaço começava a encolher. O ar metalizado que se respirava não ajudava. Comentei que era primeira vez que me via nesta situação.

- Preso num elevador? - disse-me franzindo o sobrolho.

- Não... conhecer a segunda menina mais bonita da classe.

Ambos rimos. Nestas situações convém ganhar alguma proximidade com quem partilhamos a aflição. Os botões da máquina piscavam loucos, um ruído branco e ocasionais sílabas faziam-se ouvi no auscultador vermelho -, a única salvação nos momentos de clausura. O único portal de comunicação para além do cárcere.

- Não tenho rede no telemóvel. Talvez devêssemos gritar. Quem sabe alguém nos ouve. - começava a estar irrequieta.

- Gritar o quê?

- Não sei. Por ajuda. ACUDAM. - gritou.

- Não sei se consigo.

- AJUDA- gritou novamente.

- Estás a fazer um bom trabalho. Talvez fique como ouvinte.

Passaram várias horas. Que merda. Ela já se sentara no canto do elevador. Pernas abertas. Sensuais. Suadas. Já eu, com lábios gretados de sede e um cheiro a suor que não podia. Pobre miúda... tinha logo que levar comigo.

- Que fazes da vida? - perguntei ao mesmo tempo que limpava o suor da testa.

- Estou a terminar estudos; um mestrado em Relações internacionais.

Que conveniente. Uma relação entre mundos diferentes. A segunda miúda mais bonita da escola básica e o gajo que nunca foi o segundo em nada (nem o primeiro) e quase com o dobro da sua idade.

- Senta-te aqui a meu lado. Isto é desesperante. - Pediu-me, impaciente.

Encostou a sua cabeça no meu ombro.

- Não sei o teu nome. - murmurou cansada. Enfadada.

- É irrelevante, é um nome comum e que nunca seria recordado. Qual é o teu?

- Tens razão. Também não quero saber.

Apesar do suor que me alagava envolvi-a nos meus abraços, Ela pareceu não se importar. Eu também não. Nesse momento lembrei-me daquele filme Lost in translation. Clichê! Senti o seu corpo a complementar o meu torço. Respirei fundo o cheiro do seu cabelo. Champô comum mas quente e envolvente.

Há uns tempos, cerca de uma década e meia, um tipo disse-me que não havia nada como carne nova. Pareceu-me bastante misógino; um comentário de talhante. Entendi o que ele queria dizer quando como que por consequência do cansaço peguei a sua mão e suavemente senti os seus magros braços. A carne suave e um pouco esponjosa. Nervosa.

Toquei as suas pernas e ela enroscou-se mais. Comecei a ficar duro. Não muito, apenas um sinal de vida. Umas palpitações.

Poderia ter sido a clássica foda no elevador, observados apenas pelos espelhos que nos circundam - e potencial câmara de segurança. Nada disso... Toquei na sua face e partilhamos um leve beijo nos lábios. Nesse exacto momento as portas abriram-se, e dois homens fardados aguardavam-nos, como negociadores de reféns.


No bar daquele hotel bebemos um copo. Eu fui para um vinho tinto. Ela preferiu um cocktail exótico com sumos e sombrinhas de papel. Acordamos não trocar nome nem contactos. Prometi escrever a nossa história.

Lisboa, 03 de julho 2018
um Velho Pervertido