Tendinites no hotel

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Um dia, João Peixe vadeava pelo Chiado quando decidiu beber um café no quiosque ali na praça Camões. Sentou-se na esplanada, o sol estava quente e queimava a pele, o café queimou a língua. Vítor estava algures no norte visitando familiares e Luísa, desaparecida há mais de uma semana, provavelmente ter-se-ia enamorado por mais um homem desinteressante com quem perdia tempo, deixando J.P. ao abandono e suscetível ao acaso dos encontros e desencontros. Na mesa a seu lado uma mulher, talvez com uns vinte oito anos, bebia um mazagran e através dos óculos de sol DG, desfrutava do ambiente da praça, repleto de tipos que tentavam vender louro prensado por chamon. J.P não pôde deixar de reparar no vestido florido que a morena vestia, as coxas grossas de atleta que, intencionalmente (?) se exibiam num ato de liberdade há muito desejada. Que calor que estava...

Os olhares cruzaram-se por acidente e J.P sorriu a esta estranha mulher. Ela não sorriu. Meteu conversa perguntando se ela era portuguesa.

- Não, sou do Líbano. - respondeu ela num Inglês perfeito.

J.P. nunca havia conhecido ninguém de tal zona e a curiosidade, que é um caroço duro de roer, foi mais forte que ele e quase rachou um dente.

-Posso juntar-me a ti? Estamos sozinhos, o café torna-se mais agradável com companhia - disse J.P. já levantando-se e arrastando a cadeira.

- Sim, pode ser.

Partilharam mesa, ela passa a mão pelo pescoço e decote numa tentativa de aliviar o calor que se sentia na praça Camões. É uma pena não haver uma fonte que refresque aquela zona da Baixa, o cheiro a suor emanado de cada corpo que por eles passa relembra que a vida é efémera e cheira mal.

- Sou o J.P.

- May

- Prazer

Ela esboça um sorriso desconfiado.

Conversam sobre viagens, sobre as culturas, as diferenças, as semelhanças...

- E vieste sozinha para Portugal?

- Sim - responde May.

Conversa puxa conversa e, num segundo perturbador, quando por acidente propositado J.P. toca na mão de May provocando o efeito catalisador das reações de atração entre corpos, os olhares fixam-se um no outro, e os enormes olhos castanhos de May brilham quase encandeando J.. Ambos sorriram e nessa noite jantaram juntos.

May viajava em férias, após dois anos conturbados de trabalho, procurava diversão e novas experiências que, no Líbano, eram difíceis de acontecer. J.P. que ainda não havia encontrado o que procurava, não sabendo ao certo o quê, estava aberto a proporcionar esse mundo mágico que ela tanto ansiava.

Jantaram polvo à lagareiro e beberam vinho branco bem fresco, May pagou a conta e J. também não insistiu. Ela comentou que estava hospedada num hotel caro de Lisboa e que poderiam ir beber um copo no seu quarto, nesse momento, J. sentiu-se uma puta. Não que lhe tenha pesado na consciência, este seria o preço a pagar por todas as outras histórias em que ele, na posição que May agora ocupa, fez a mesma proposta a mulheres que encontrou pelos bares e outras casas de pasto.

O quarto era alcatifado, a cama era enorme, a parede para a casa de banho era de vidro, não se tem muita privacidade neste quarto, pensou J.. May disse que ele poderia servir umas bebidas enquanto ela tomaria um duche rápido pois a noite estava quente, o suor causava comichão e é salgado e o que se pretende é uma noite suave e doce.

May é morena com curvas generosas sem ser gorda, a espuma branca que percorre o seu corpo desliza como ondas numa areia dourada e uniforme. As curvas do seu corpo, dunas numa praia paradisíaca, suscitam o interesse de J. que a observa pelo canto do olho enquanto enche dois copos com vinho frisante. O longo cabelo ondulado escorre-lhe pelas costas tocando na curva onde começa o rabo redondo e atrevido de May. J. respira fundo quando ela passa a toalha pelo corpo retirando o excesso de água, e os seios, pequenos mas redondos e firmes oscilam a cada passagem dessa toalha de hotel. Invadido pela emoção do espetáculo gratuito tentou agir casualmente quando ela, nua, entra no quarto e pede o copo de vinho. Como se fosse a situação mais normal do mundo J. dá-lhe um copo à mão e acaricia a sua face beijando-a levemente nos lábios carnudos, frescos e húmidos, suaves ao toque, sumarentos e doces no sabor.

Na cama, J. lambe May, tal como se lambe uma manga madura, tentando aproveitar cada gota de sumo que escorre pelo queixo e May geme, geme alto e orgásmicamente, arfando e dizendo algumas palavras que J. não consegue entender. Lendo a expressão corporal ele penetra-a com dois dedos estimulando-a vigorosamente e May grita para que ele não pare.

- Mais rápido... isso, isso.... não pares - vai gritando May.

J.P. não pára, e os dedos dentro dela vibram como se de uma mão de robot se tratasse. O pulso começa a doer, a tensão nos tendões no túnel cárpico são como choques elétricos e May geme, os dedos frenéticos, e a dor, e J. quase que deixa de sentir a mão. É um sofrimento para ele, um prazer para ela, esta dicotomia quase que chega a ser poética. A gaja nunca mais se vem, pensa ele em sofrimento. May pede que ele a penetre mais fundo e a toque mais rápido (mais rápido ainda?). Pelo antebraço de João Peixe, os fluídos da Libanesa são um rio que o tenta afogar, são um fogo grego que queimam os tendões e os músculos. No início João até estava excitado e desejoso de possuir esta Libanesa, mas tal como numa guerra de sexos onde a busca do prazer impera (num salve-se quem puder), João apercebe-se que é apenas um boneco. Um boneco com tendinites e dor.

Lisboa, 25 de janeiro 2016
um Velho Pervertido