Quando conheci o Marquês

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A calçada da Praça do Comércio estava escorregadia como a pureza de uma jovem mulher excitada. Bebemos um café e um bagaço antes de visitarmos a sua Masmorra, que sita no Príncipe Real. Falou-me da sua família e de como o Rei havia homenageado um seu antepassado com um brasão, palacetes e montados alentejanos. À entrada da casa a bandeira da família dá-me as boas vindas. A porta abre e um mordomo espera-nos com uma pequena travessa de prata e dois copos de licor de poejo. Pelo corredor que nos leva à sala da Música há pinturas a óleo de imagens horríficas, pessoas decepadas, torturadas por religiosos e carrascos com vestimentas de cabedal negro. Sente-se um cheiro de incenso e mirra, característico de igrejas. Curioso, oiço uma voz... uma mulher canta e ensaia escalas, tons, melodias sem palavras.

O Marquês é um homem muito educado, um cavalheiro que compreende a condição humana e portanto, as expectativas que poderá ter em relação ao seu semelhante não são tão elevadas como a maioria de nós. Na nossa natureza selvagem, somos animais complexos com desejos do desnecessário. Não é um defeito, mas sim o motor da mudança e da evolução. O Marquês explicou-me o porquê da Dor e do Sacrifício serem tão importantes para a manutenção da nossa existência. Que esta fome de dor é, como direi, essencial à Experiência Humana, torna-se um elemento fulcral no crescimento do Eu e a luta entre o desejo, a necessidade e autoconhecimento, deixam-nos perdidos sem capacidade para priorizar a Vida. Eu compreendi o que ele me dizia. Quando terminámos o licor de poejo:

- Gostarias de visitar a minha masmorra, não é? - questionou-me o Marquês olhando-me nos olhos com uma profundidade cavernosa.

- Sim. Gostaria bastante - respondi.

Junto do Marquês há uma energia que nos atravessa, que explora cada célula em busca do ponto mais sensível e do desejo mais pervertido que possamos alimentar. Esta sensação de invasão de privacidade é incómoda. As escadas em caracol até à cave são escuras e o cheiro a mofo predomina. O coração aumenta o ritmo lembrando tambores em barcos de escravos. Cada passo, cada degrau, pum pum, mais um degrau, pum pum pum. Oiço vozes e também o que parecem ser correntes que se arrastam. O cheiro a pele queimada faz recordar matanças de porcos. A cave consiste numa área circular com doze pequenas divisões, algumas com porta de metal, outras apenas com uma escuridão densa que bloqueia qualquer olhar para o interior.

- Gostarias de ter um homem ou uma mulher? - pergunta-me o Marquês com um olhar sério e penetrante.

- Mulher - respondi.

O Marquês puxa uma pequena corrente que, descendo do teto até ao centro da masmorra, faz com que um sino toque. Dong dong. Da escuridão de uma das salas, uma silhueta surge. A luz parece agregar-se em matéria, dando forma ao corpo feminino que se aproxima. Uma jovem mulher, com pouco mais que vinte anos. Os seios cobertos por uma faixa de cabedal negro. As cuecas são semelhantes a um pequeno avental ou babete, ao pescoço, ostenta uma coleira.

- É tua. Um presente, para agradecer o início desta nossa amizade. - diz o Marquês enquanto segura a mão da mulher e a desloca na minha direção.

- Que faço com ela? - respondi honestamente. Todo este cenário é novo para mim.

- A beleza da condição humana é encontrar quem, tal como nós, entende o Prazer na sua forma mais pura. Poderás fazer com ela tudo o que quiseres e ela adorará tudo o que tu Desejares.

Numa das salas, eu e ela sozinhos. Ela desvia o olhar numa atitude submissa. Toco-lhe no ombro e levanto o seu queixo. Sacode a cabeça evitando o meu toque. Compreendo o que espera de mim...

Onde nos encontramos há um gancho de metal que cai do teto e é perfeito para acorrentar o anel de metal que prendem as algemas que já lhe havia colocado. A minha Escrava fica exposta e desprotegida, numa inocência que caracteriza as vítimas. Tenho à minha disposição os mais diversos objetos: chicotes, spankers, cordas, correntes, lâminas e facas. Utilizo a última para cortar o cabedal que cobre os seus pequenos seios. Levemente, passo a lâmina sobre a sua pele sem deixar qualquer marca, apenas o arrepio de metal frio altera a sua textura. Respiro fundo. O efeito que provoco na minha Escrava excita-me. O controlo, o poder, a fragilidade de um ser nas minhas mãos; uma alma à minha mercê. Esta nova realidade que o Marquês teve a amabilidade de me oferecer é deveras o melhor presente que um homem pode receber. O modo como a minha Escrava abre a boca para respirar, mostrando os dentes brancos e alinhados, causam em mim um efeito devastador. Necessito da claridade e da luz que emana da sua juventude e no entanto, é o que mais desejo ofuscar. Esta contradição é razão pela qual a Desejo. Toco no seu rabo tão perfeito e inocente. Não resisto e observo como lentamente os meus dedos, a cada palmada que lhe dou, ficam marcados num vermelho vivo na pele branca. A minha Escrava não grita, não geme, apenas expressa um agradecimento no olhar. As correntes que arrasto tintilam como dinheiro semeado em pedra. Prendo-as nos seus pulsos e dou-lhe uma volta no pescoço, sem pressão, apenas o frio do metal arrepia a pele imberbe. Lambo-lhe a cara com fome de medo e sinto o arfar profundo, os seus seios elevam-se em exuberância ou, tal como um animal dentro de água, tentam respirar o tão precioso ar poluído desta sala. Procuro refúgio nas suas costas e mordo-lhe o pescoço, lambo-lhe as orelhas e sinto a sua vulva quando lhe toco por trás. A pele do seu rabo junto à pele do meu pulso deixa-me excitado e cresço dentro das calças. A escrava respira. Na mesa tenho um pequeno chicote feito com crinas de cavalo que deslizam pelos seus seios brancos e mamilos cor de rosa tão pequenos e puros. Chupo o dedo do meio da mão direita, toco-lhe nos lábios e envergonhadamente no clitóris, deixando-a húmida. Penetro-a e o movimento do meu dedo é diminuto, ela é tão apertada. O chicote de crinas cai no chão e pego num segundo chicote de fitas de cabedal vermelho. Suave e penoso como a Vida. Na pele branca desenho um rendilhado vermelho e quase que sinto o latejar da pele. A minha Escrava não grita, não geme mas sente a preciosa Dor. Esta sombra que me cobre e me transforma num Sádico sedento violador de Virtude, sequioso por mais, é viciante. Rendo-me aos encantos do Sofrimento e Sacrifício. Ereto e latejante, penetro-a por trás enquanto aperto a corrente que se encontra serpenteada no pescoço.

Lisboa, 07 de novembro 2015
um Velho Pervertido