História de um qualquer reencontro

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O que se passou naquela primeira vez, quando resolvemos fugir até ao vazio de um montado, é uma memória que conservo num pequeno frasco à prova de luz para que nunca desapareça ou se estrague.

O céu brilhava. A noite preenchia o tempo, as estrelas eram pequenos candeeiros.

Dentro daquele carro velho, discutimos parvoíces que casais que se desejam discutem. Ainda antes de provar o sabor dos seus lábios e de saber se era peluda ou não, já os seus olhos grandes me enfeitiçavam, as suas mãos frágeis e delicadas causavam-me arrepios.

Quanto mais envelheço, mais incapaz sou de segurar a mão de uma mulher, mais facilmente lhe lambo a vulva e os seios e o cu. Palavras ásperas e duras, eu bem sei que assim são sentidas. Não posso utilizar outras que não estas. As ásperas e ácidas palavras da realidade animalesca e mortal que nos corre no corpo. Eu e ela dávamos as mãos.

Era uma miúda tímida e delicada. Dentro dela existia uma armadura extremamente resistente a desgaste e agressões – daquelas do coração, bem pirosas e pitorescas que não nos deixam dormir – e assim foi. O sexo… intenso e suado, convulsado e inebriante, deixou-nos naquele estado de Apaixonado aparvalhado. Imagine-se! E como nos queríamos constantemente! Por vezes para foder, outras vezes apenas para estarmos juntos. Dias houve que queríamos apenas olhar-nos, nem que fosse de fugida como corredores numa estafeta. Toque e foge- dizia-me ela.

Descobrimos que sexo em albufeiras é excitante mas o cheiro a algas e vegetação podre é muito pouco estimulante. Este tipo de dicotomia sempre esteve como sombra sobre a nossa relação de Amor – animalzinho pequenito como ácaro, que desimpede as artérias do coração, quando congestionadas por solidão.

E quando a traí e ela descobriu? O teto caiu. A torre do castelo abateu. A porta da muralha encerrou-se para sempre. Que discussão e que sofrimento! Tempos de angústia. A perda havia sido dolorosa, como amputação de um membro por uma razão estúpida. Que parvoíce!


Dez anos depois, encontramo-nos por acidente em Lisboa. Na rua dos Remédios. Ela tinha os mesmo olhos, alguns cabelos brancos que lhe davam um ar sensual. Os gestos de menina continuavam ali, inalterados, em cada passo em cada movimento. Recordamos algumas das nossas histórias. Após estes anos as dores haviam desaparecido, as cicatrizes eram praticamente inexistentes. Afinal éramos umas crianças – comentámos. Comprámos um vinho numa loja indiana.

Fomos para minha casa. Tomamos banho e metemo-nos na cama. Dez anos depois ali estávamos, enleados como se nunca tivesse passado o tempo. Fodemos tal como sempre o havíamos feito. Eu dentro dela. A mesma sensação que havia esquecido agora brotava novamente. E os beijos. As palmadas e os gemidos. No dia seguinte, quando a deixei em casa e voltei para escrever esta história, percebi porque a havia traído dez anos antes.

Lisboa, 12 de dezembro 2016
um Velho Pervertido