Rosa

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Rosa é advogada e vive perto do Rossio. É uma jovem mulher com pouco mais de 30 anos que partilha casa com uma sexagenária viúva, triste e com um pesadelo na vida ao qual chama Filha. Ambas aprendem uma com a outra os mistérios da Felicidade. Gosto muito da Rosa. É delicada, bonita, inteligente e tem tudo para ser uma mulher feliz, no entanto, guarda um segredo que em segredo me contou quando, certa noite, decidimos trocar promessas e juras de fidelidade.

Rosa tem um problema que, na minha humilde opinião, é uma simples mutação comportamental e como tal, considerando as teorias de Darwin, é o motor da evolução. O sexo e a objectificação de Homens e Mulheres são o rastilho para a sua Perversão, levando-a a ter as mais estranhas atitudes nas noites em que a Solidão a visita com chás de gengibre e hortelã. Rosa é tão linda vestida de vermelho, sem maquilhagem e cabelo rebelde que apenas por teimosia toca nos ombros, sapatos de salto raso, porque a calçada Portuguesa é um martírio:

- Gosto de andar - diz-me enquanto passeamos pela Rua da Prata.

Nas noites em que não a vejo, sei que aguarda que o gato adormeça, que o girassóis cultivados na janela do segundo andar baixem a cabeça em penitência ou numa reza silenciosa, para poder escapulir de casa e dirigir-se ao Cais do Sodré. No Cais as noites têm vida e Rosa que aos poucos morre na rotina, vampiricamente procura recarregar a energia vital sugando o Prazer de todas as formas e feitios.

Por vezes engraça com uma miúda, prefere as estrangeiras de visita à capital, pois é mais fácil livrar-se das memórias, conversa com ela, bebem juntas e falam de homens, tocam-se inocentemente como amigas de longa data, daquelas que fazem festas de pijama e contam segredos uma à outra. Por vezes sóbria, por vezes embriagada, convence a miúda a ir com ela para um Motel na Praça da Alegria. Já testemunhei como as mulheres mais novas, de dezanove e vinte anos, sentem a tensão sexual junto de Rosa, é algo que invejo nela. Ocupa sempre o mesmo quarto pois já conhece os recantos e sabe onde se encontra a tábua solta do chão onde esconde umas algemas, preservativos e um frasco de lubrificante. Gosta de banhar a miúda e ouvir os risos inocentes quando a água fria a deixa com pele de galinha. Beijando-a na boca e tocando em todo o seu corpo Rosa fica húmida e com coração acelerado. A energia que se vai acumulando dentro do peito sob forma de Desejo fá-la conduzir a miúda para a cama onde a lambe demorada e deliciosamente. Os gemidos agudos são excitantes. Quando Rosa me conta estas aventuras eu fico duro e invejo-a. Quando a miúda está completamente encharcada Rosa gosta de brincar com um vibrador, penetrando-a docemente enquanto a lambe. A miúda nunca toca em Rosa, a noite é de receber não de dar, é esse o acordo que fazem antes de chegarem ao Motel. Quando ambas estão satisfeitas, tomam duche, vestem-se e cada uma vai para seu lado. Rosa volta para casa.

Há noites em que precisa de Homem e então veste-se de forma provocadora, pois os machos por norma são fáceis de ludibriar. A noite da Medusa, como ela descreve essas aventuras. No Cais os homens são parvos e fáceis, Rosa sabe disso muito bem, basta meter conversa com um que lhe agrade, perguntar meia dúzia de coisas sem interesse e está no papo. Confiante que tem o engate da noite o homem incha e julga-se um Imperador. Os seus amigos ficam bêbados de inveja. Num teasing, esfregando o rabo no homem, Rosa consegue que ele fique doido. Ela tem um rabo redondo de pele branca e fio dental preto. No mesmo Motel, no mesmo quarto, Rosa finge ser usada e vem-se. Ela gosta de homens frágeis em noites de Inverno, homens fortes e burros no Verão e homens inteligentes no Outono, na Primavera... essa é a altura das flores e, quando está perto do fim da estação, gosta de mulheres maduras e experientes. No quarto do Motel, Rosa é a fêmea perfeita. Chupa e toca o homem como poucas mulheres sabem. Os homens ficam apanhados por ela, por isso nunca troca contactos, nunca diz onde mora nem que rotina tem, caso contrário, não lhe largam os calcanhares. Quando ela me conta estas aventuras eu não invejo esses homens, eu tenho Rosa de outra forma, pertencemos um ao outro mas não admitimos (totalmente). Quando o homem se vem, Rosa chupa-os e lambe-os como se a vida estivesse a ser desperdiçada numa ejaculação. Tomam duche, vestem-se e cada um vai para seu lado. Rosa volta para casa.

Lisboa, 10 de novembro 2015
um Velho Pervertido