Istambul

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Na segunda-feira, a chuva massacrava lentamente as cabeças, os ombros e tudo o que se lhe atravessava pela frente (ou por baixo). João Peixe, ensopado em monotonia, no seu apartamento na Graça, preparava-se para ir à caça. A companhia de uma nova mulher seria perfeito para colorir o cinzento do dia. A chuva havia parado e já era noite, mesmo assim, sem hesitações resolveu ir até Alfama e beber uma ginja, ou um copo de vinho verde, ou mesmo só uma imperial. Perto do Largo do Chafariz de Dentro, encara duas estrangeiras que pareciam perdidas. Mapa na mão e falando uma língua que ele desconhecia. Num inglês de quem não fala inglês, uma delas, a loira, pergunta-lhe onde fica determinado local.

- Não conheço esse restaurante - responde J.P.

- Oh... Mas... Podes recomendar-nos um onde possamos comer algo típico?

- Sim. Mesmo aqui perto, nesta travessa, tem um muito bom e barato.

- Perfeito... - a loira sorri e a amiga ruiva diz algo em turco que J.P. não compreende.

- A minha amiga está a perguntar se não queres juntar-te a nós - diz a loira sorrindo e, a ruiva, parecendo que entende o que foi dito sorri e toca no longo cabelo cor de fogo.

- Porque não? Aceito sim. Vamos. – responde pensando que havia sido mais fácil do que esperava. Há dias assim, em que os peixes simplesmente saltam para a rede e ali se deixam ficar.

Beberam vinho tinto, comeram carne em molho de vinho do porto. Beberam mais vinho e café. O restaurante já estava vazio e portanto pediram a conta. A loira fez questão de pagar. J.P. passou a mão pela perna dela apertando suavemente. A ruiva de olhos vidrados só comentava que os homens portugueses eram baixos e barrigudos. J.P. comentou que nada sabia das turcas.

- Na minha fantasia as turcas tem narizes compridos, são morenas e bem torneadas.

Continuaram nesta galhofa até que a loira se levanta já um pouco atordoada do vinho e quase que cai no colo de J.P.

- Vamos... Vamos beber alguma coisa - ordena a ela à medida que se tenta equilibrar mantendo uma mão no ombro de J.

- Vamos até ao cais - propõe ele.

A noite foi longa e após copos, conversas e provocações, J.P. propõe acompanha-las de volta ao hotel onde estão hospedadas. Elas aceitam a companhia e durante o percurso do cais até ao Rossio fazem um estardalhaço digno de turista estrangeiro em férias. J.P. como cavalheiro que é - e rato nas lides de turistas perdidas na boémia lisboeta - abraça ambas pela cintura e vai-lhes segregando ao ouvindo.

- Já estamos perto... Cuidado com o passeio... Apoia-te em mim... No hotel, no Rossio, a ruiva perguntou se J. não se importava de subir com elas e ajuda-la a deitar a loira.

Isto não vai correr bem, pensou quando a loira vomitou perto da Praça do Comércio. Um grupo de alemães que por ali passavam gritaram e tentaram aproximar-se mas J.P. enxotou-os dizendo que estava tudo bem.

- Sim... No problem.

Balbuciou e estrebuchou bastante mas finalmente lá conseguiram que despisse as calças e se metesse na cama. As pernas eram finas e de pele muito branca. Num olhar discreto J.P. percorreu o corpo da loira, parecia tão saborosa e delicada com as virilhas desprovidas de pelo. Os seus olhos por momentos duvidaram do que haviam registado. Ao contrário do esperado dedo de camelo, um pequeno pénis pendia por baixo das cuecas brancas de rebordo rendado.

Lisboa, 16 de junho 2016
um Velho Pervertido