Abençoado (a minha benção)

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Comecei muito novo.

Tinha dez anos quando vesti a batina e ajudei na missa. O acólito bem comportado que segura a bandeja prateada por baixo da boca dos fiéis, tendo como missão não deixar que, em caso de erro de fé, a Hóstia caia pecaminosamente no chão. Vestes brancas presas por uma corda.

Nós acólitos não tínhamos autorização para usar crucifixo ao pescoço, essa honra pertencia apenas ao senhor Padre. Eu não ligava muito à Fé, mas em falta de meninos para ajudar na missa, o Sacristão percorria o jardim onde brincávamos, chamava por nós e dizia:- Não gostariam de ajudar na missa?

- Sim - respondíamos inocentemente.

Lá íamos, meio aborrecidos porque não podíamos andar de skate e começávamos a ficar com fome. É do que me lembro com mais detalhe, a fome que sentia por a missa demorar tanto tempo. Na minha família sempre se falou Dele com respeito, sempre se cumpriu com os rituais de Páscoa e de Natal, em família acompanhávamos as procissões. Em tenra idade fui batizado, quando já sabia ler fiz a Primeira Comunhão, quando me tornei quase adolescente e tinha voto na matéria, larguei tudo (só mais um punhado de areia largado na praia) e ninguém se importou. Eventualmente o nome Dele era usado em vão em cenários de violência doméstica, o que também era bem aceite e ninguém se importava, pois sabíamos que na Páscoa, no Natal ou qualquer outro feriado, pediríamos perdão e tudo ficaria bem, eram essa a regra.

A minha vizinha, que era pouco mais velha que eu, foi a primeira rapariga que desejei quando ainda nem tinha idade para perceber o que era o Desejo. Masturbei-me tantas vezes a pensar nela que os sonhos tornavam-se histórias que duravam dias e dias, fazendo com que os confundisse com a realidade. Ainda antes de ejacular, na minha memória, eu já não era virgem. Sonhei que estava num campo perto de uma albufeira, e que tivemos sexo atrás de uma pedra de granito, semelhante às que existem no Alto de São Bento em Évora. Mais tarde, quando um dia estava a brincar com o irmão dela, senti o cheiro que ela emanava e guardei aquela sensação comigo, nessa noite masturbei-me a pensar nisso. Não era bonita, eu sabia que ela não era bonita, não pensem que estava apaixonado ou algo do género. A vontade que sentia era diferente de paixão. Apaixonei-me sim, por uma miúda ruiva quando aprendi a tabuada do sete e a conjugar verbos em tempos complicados. Vou admitir que quando isso aconteceu Rezei para que ela se apaixonasse por mim. Não faz mal nenhum tentar, e como a maioria dos católicos já finge tão bem a sua Fé, eu era apenas mais um, para dizer a verdade, acho que Ele sabe como as coisas funcionam cá em baixo.

Estudei na escola preparatória mais violenta da cidade, até existia uma turma que era designada por Turma Especial. Só rufias. Eu era um menino pacato, não pertencia ao grupo dos Rufias nem ao grupo dos populares nem a grupo nenhum, era só um que para ali andava a tentar sobreviver à violência escolar, à falta de paciência dos professores e contínuos (agora são auxiliares de ação educativa) e à violência doméstica que carinhosamente esperava por mim em casa. Essa perversão deixarei para outra altura, não quero relembrar para já.

Nessa escola beijei uma mulher pela primeira vez. Digo mulher pois eu tinha treze anos e ela era experiente, tinha quinze e tinha tido vários namorados. Foi um linguado nas escadas escuras. Não gostei. Os meus pais souberam e brincaram comigo. Não gostei. Eu pensava noutra miúda, ela era a namorada de um colega da minha turma e masturbei-me a pensar nela várias vezes. Era a sua voz de rufia, o cabelo preto, o nariz bicudo que me atraiam. Uma vez apalpou-me os tomates e não gostei. Perdeu o encanto e deixei de me masturbar a pensar nela. Agora que penso nisso, nessa altura, eu pouco desejava rabos e mamas, e estou a fazer um esforço enorme para pensar no que é que me fazia desejar estas raparigas... Havia uma que era muito bonita, rosto Angelical. Talvez fosse a cara ou o sorriso que me atraísse? Todo o mundo sabia que eu gostava dela, ela inclusive, no entanto, nunca tive coragem para a confrontar com essa realidade. Masturbei-me muito a pensar nela.

Tive uma namorada que me provocava ereções e me deixava envergonhado. Quando tentámos sexo pela primeira vez vim-me imediatamente. Merda! Quando cheguei a casa masturbei-me a pensar nisso. Tentamos novamente e... Merda! Quando batia uma aguentava bem, controlava o tempo, conseguia vir-me num guardanapo de papel sem grande problema. Quando fodemos novamente a coisa correu melhor e quase que foi bom. Foi frustrante este processo, e muito pouco sexy diga-se de passagem. Certa noite, em casa dela, os pais tinham saído e estávamos sozinhos. Vimos um filme, nessa altura não bebia álcool, era bastante certinho ou inocente (e muito novo para não ser romântico). Abraços no sofá, toco naquelas maminhas pequenas e fico logo teso. Éramos muito inexperientes e as punhetas dela não eram lá muito boas, faziam doer, puxava muito a pele e depois esticava e depois rodava e aquilo tudo era doloroso. Naquele tempo elas ainda tinham pelos. Eu não achava nada de mal, pois não conhecia outra realidade. Bem, senti que estava molhada, recordo-me que éramos tão envergonhados, tudo isto se passava num silêncio absoluto, ao fim ao cabo éramos crianças. Ela saltou para cima de mim e depois de várias tentativas lá o enfiou. Aquilo começava a parecer-se com alguma coisa, até que encontrámos o ritmo e começou a ser bom. Arfamos e pela primeira vez ouvi-a gemer, confesso que foi a melhor sensação do mundo, dei prazer a uma mulher! Continuámos nesse balanço e parecia natural, senti-me ator de filmes porno e no entanto, nunca tinha visto um filme desses! Ela gemia em cima de mim, eu continha dentro da minha vergonha os gemidos, mas arfava. Toda esta intensidade dura uns seis a sete minutos e quando me vim, a sensação foi tão Divina que murmurei baixinho, Meu Deus...

Lisboa, 11 de novembro 2015
um Velho Pervertido